quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Carta ao obstinado coração. (de uma alma também obstinada)

“Eu só não posso é fazer do bonito o feio, só não posso abandonar o coração de quem me quer”




Meu querido amor machucado,
Naqueles dias em que tu seguravas minha mão e adormecia na calma de me ter...
Eu estava ali, na mesma calmaria do teu coração
Mas o meu inquieto e medroso pensamento me fez perceber que não precisávamos de correntes...
Tu e eu éramos pássaros, livres e dançantes sempre a voar
Mas estávamos engaiolados, sem perceber, e na verdade sem querer...
Foi então que eu não soube como te dizer que estava na fronteira do sentir:
Entre te querer e me querer sozinha;
Entre querer te levar comigo e temer uma despedida
Entre adormecer no teu abraço macio e desejar acordar para ver as brisas que passam.

Eu não soube. E eu ainda não sei decidir.

Eu, tão obstinada e decidida...a correr por aí com meus pés livres no chão
Absorver a terra e a chuva a lavar o meu corpo,
Eu que pensei, enquanto dormias do meu lado,
Que o amor talvez seja apenas uma poesia que cantamos pra dormir
Pra dormir os medos, e as dores,
Pra dividir as dores que são inteligíveis só a nos mesmos
Eu que pensei que o teu amor fosse uma fuga de ti,
Eu que pensei mais: que o amor estava me confundindo a ti e tu a mim, e eu estava me perdendo.
Eu que desacreditei do teu olhar...
Tive que te dar as costas, tive que sair de ti, tiver que soltar a tua mão
E tão duramente recusar o teu abraço...
Para só então, meu amor, voce perceber que precisa de voce mesma,
E eu não posso te guardar toda em mim
Nem tu mesmo pode carregar nas costas todo o peso que tenho aqui.
“É leveza. É leveza te ter” tu dizias.
E se deixar de ser? Eu perguntava.
E nas dúvidas e medos eu fechei os olhos e parti de ti...numa breve esperança de te reencontrar.
Num silencioso momento de querer ser flor pequena e fina novamente.

E te reencontro, todos os dias sendo tu..tu sozinha..
E te reencontro sendo criança machucada nos meus sonhos
Ao me abraçar,chorando,canta...aquela antiga canção de noites puras.
Eu te vejo por aí...depois do dilaceramento do teu ser,
Depois de enxugar as lágrimas, conseguiu ver...belamente quem és
Alma límpida, e bela...sempre enigmática...
Eu te encontro por aí, e te vejo sozinha,
E vejo o teu consolo em se encontrar novamente contigo mesma
Sem medo do adeus futuro, do romper, do trágico
Eu te vejo no alívio de me deixar só,
Borboleta que voa, para que assim não sacrifiques tanto a tua alma
Numa suprema dependência de sentidos
Eu te vejo consolada em ti mesma...
Eu te vejo longe.
Poderia te pedir perdão por não saber o que fazer,
Poderia ajoelhar e rezar para ti para que agora curasse a minha dor
Pelo meu egoísmo, os meus medos, a minha descrença, a minha aflição,
Poderia rasgar meu coração a ti,pedindo para que não esquecesse da promessa
Mas as promessas fixam-se nos ventos, no orvalho, no cair dachuva,
Quando finalmente tu sabes que não pode esquecer nem dos olhos nem do sorriso.
E eu deixo que doa um poquinho, e deixo que o sorriso venha no final, na calma de me sentir viva.

Eu talvez devo te pedir perdão agora, por ter fugido dos teus abraços,
Por magoar teu coração já ferido,
E por te jogar tudo que doeu até então.
Por ser criança em te querer perto de mim segurando a minha mão,
Mesmo depois que eu decidi que não te teria sempre aqui,
Porque nascemos e morremos sozinhas, meu amor...
E de ti eu levo os pedaços de amor que me regalastes
Levo nas lembranças, levo na promessa
Levo na certeza das incertezas
Levo com a sinceridade do teu coração
Então te levo,
E tu me levas aí...
Mesmo que tu caia e chore.
Mesmo que eu caia e chore.
Mesmo que nossos desejos ainda sejam os mesmos.
Mesmo que o Amor esteja agora engaiolado, abafado em nossos anseios de vivermos o que somos, além dos laços fixos.
Eu te levo e tu me levas...
E nessas estradas que traçamos para nós..
Eu sei, porque eu desejo
E tu sabes, porque sonhas...
A nossa encruzilhada vai estar lá mais adiante...
Porque nós ainda estamos a sentir.

Segue com a lembrança, não te deixas entristecer
Se eu for, é para que fiques tranqüila.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tu mostras tão simples como o amor tá além dele mesmo...o amor é difícil de sentir, de reagir..cheio de efeitos.
E como droga, ele vai viciando, até que a gente se perde.
Eu te perguntei uma vez se amar somente não acabava com todo o medo, e as dúvidas do amanhã.
E tu me disse que quanto mais certeza se tem de um sentir, mais medo, mais incertezas se tem perante o mundo e as coisas. E em ti, restava o sentir e o medo.
No amor tu te encontra ou no amor tu te perde? são as duas coisas não é mesmo.

Tu é bonita pequeninha, e essa tua forma de sacrificar a calma pelos medos, chega a ser inocente,sem coragem e absurdamente contraditória...mas é lindo, pq é cheio de sentimento claro,limpo, puro, envolvido nos medos de tudo isso aqui.

Deuses te abençoem os sonhos e os pensamentos. Porque tu continua bonita demais.

aquele abraço.

Tu sabe quem. kkk